Sucesso do pilates abafa riscos e limitações do método
IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO
Dor nas costas, barriga, sedentarismo? Seus
problemas acabaram: faça pilates.
A propaganda do método desenvolvido pelo alemão
Joseph Pilates (1883-1967) não é tão explícita assim, mas o pacote de benefícios
colou no imaginário popular.
O sucesso é explicado por uma feliz combinação
de fatores, a começar pelas qualidades da técnica. O pilates tem uma gama enorme
de exercícios, adaptáveis a diversas condições físicas e objetivos, que
organizam a postura e servem tanto para reabilitação quanto para a conquista de
boa forma.
As qualidades foram incensadas
por bonitos e famosos, atraindo investidores do mercado da malhação.
"No início da onda [do
pilates], os equipamentos eram muito caros, então as empresas entraram com um
marketing pesado para reforçar as vendas. Virou moda e se expandiu numa
quantidade absurda", diz o fisioterapeuta carioca Leonardo Machado.
A moda não passou: iniciada há
mais de dez anos, a curva de crescimento continua.
Segundo Léo Yamada, sócio do
Grupo Metalife, que oferece aparelhos, consultoria e cursos de pilates, o
negócio cresce 20% ao ano. "Nosso grupo, que abastece até 30% do mercado, está
vendendo 5.000 estúdios por ano." Há cinco anos, o número de vendas girava em
torno de 1.500, segundo ele.
A demanda também cresceu
porque ficou fácil montar estúdio de pilates. "Com uma área pequena e
investimento a partir de R$ 35 mil, a pessoa consegue começar seu negócio",
afirma Yamada.
Com o crescimento rápido,
vieram os efeitos colaterais. "Os estabelecimentos precisam de professores para
'começar ontem' e os profissionais têm que estar prontos 'amanhã' para
trabalhar. Aí surge formação por vídeo, curso de final de semana...", diz Alice
Becker, pioneira na formação de instrutores no Brasil e uma das criadoras da
Aliança Brasileira de Pilates.
No Brasil, a profissão não é
regulamentada, mas há padrões internacionais que servem para checar a
qualificação do professor: ele deve ter feito um curso de 400 a 450 horas,
incluindo aulas práticas com os aparelhos principais: trapézio, "reformer",
cadeira e barril. Para saber, só perguntando ao professor onde ele se formou e
se informando sobre a escola.
PÚBLICO DE RISCO
A formação deficiente é a
primeira sombra no cenário maravilhoso atribuído ao método. "Todo mundo quer
fazer achando que é indicado para tudo, sem avaliação, sem profissional
habilitado. Esse pilates malfeito vai acabar queimando o filme do bom pilates",
teme a fisioterapeuta Janaína Cintas, que tem especialização no método e em
outras técnicas.
Por enquanto, o potencial do
pilates faz o público apostar em suas vantagens. "O método é tão consistente que
até quem não tem boa especialização faz algum sucesso, mantém seus alunos. Mas
isso pode causar problemas", diz Alexandre Ohl, coordenador de pós-graduação em
pilates na Unip (Universidade Paulista) e professor da Bodytech de São
Paulo.
O risco aumenta porque
justamente a população com problemas (dor na coluna, osteoporose, sedentária) é
a mais atraída pelo método, que tem sido usado e indicado para tratar a
saúde.
A advogada Luciana Serra Azul
Guimarães, 38, estava havia cinco anos parada, com dores lombares. "Estava certa
de que o pilates era a opção ideal para mim", conta.
No primeiro estúdio em que
foi, fez uma aula experimental e só não começou a prática por falta de horários.
Sorte dela: uma avaliação com fisioterapeuta identificou que o seu problema
seria agravado pelos exercícios de pilates.
"O método é utilizado para
tratamentos de coluna, mas há casos em que pode aumentar a dor e agravar a
lesão", diz o ortopedista Bruno de Biase, do Hospital das Clínicas de São
Paulo.
Só depois de tratar seu
problema com outras técnicas, Luciana foi liberada para fazer pilates.
"A proposta do pilates é
interessante, mas começaram a oferecer mais do que podem dar: faça pilates e
você não vai ter mais dor nas costas, vai ganhar a flexibilidade de um bailarino
e o corpo da Madonna. As coisas não funcionam desse jeito", diz o fisioterapeuta
Leonardo Machado.
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